Existem muitas explicações do que é a infância e de como ocorre o desenvolvimento cognitivo. Muitos estudiosos dedicaram sua vida a estudar esse tema fascinante, cujas descobertas influenciam constantemente a área da Educação, com o aprimoramento de ferramentas e métodos de ensino e aprendizagem.
Entre os principais autores que descrevem as etapas do desenvolvimento cognitivo estão Jean Piaget e Lev Vygotsky. Eles elucidam, a partir de diferentes perspectivas, como acontece o crescimento de uma criança – tanto no aspecto cognitivo quanto no aspecto social.
Neste Guia do desenvolvimento cognitivo, você aprenderá um pouco mais sobre a capacidade humana de aprendizado. A infância é um campo rico, que ainda pode ser bastante explorado a favor de um entendimento mais amplo sobre nossas crianças, nós mesmos e vida.
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Antes de tudo, precisamos fazer um panorama do desenvolvimento da criança. Para isso, vamos tomar como base os estudos de Piaget – biólogo e psicólogo, considerado um dos pensadores mais importantes do século XX. Depois, enriqueceremos esse diagnóstico com o trabalho de Vygotsky, outro eminente psicólogo do século passado.
Segundo a psicologia do desenvolvimento, a qual reúne as descobertas de Piaget, a evolução humana, do nascimento à vida adulta, se desenrola em quatro estágios.
Cada uma dessas fases representa uma transição, na qual o indivíduo passa a operar de determinada maneira, conforme o amadurecimento biológico e suas particularidades.
Exploração do ambiente externo (0 a 2 anos)
A primeira dessas etapas é conhecida como estágio sensório-motor, que vai do nascimento aos dois anos de idade. Como um progresso natural do período neonatal, o bebê passa a ganhar habilidades motoras e a explorar o mundo que o cerca por meio dos sentidos.
Aqui, a criança já tem uma percepção consciente dos fenômenos, observando como suas ações se deslocam do corpo para os objetos. Assim, pouco a pouco, ela se torna capaz de organizar percepções e de interagir com circunstâncias que exijam comportamentos motores simples.
Representação de símbolos (2 a 6 anos)
O estágio do pensamento pré-operatório é marcado por um salto no processo de aquisição da linguagem. Afinal, a criança passa a explorar símbolos, palavras e números para expressar pensamentos e sua visão de mundo. Essa fase é marcada pelo egocentrismo: o indivíduo se relaciona com o meio apenas a partir da própria perspectiva.
Socialização e operações mentais (7 a 11 anos)
O abrandamento do egocentrismo, que abre espaço para interações em grupo, é um dos fatos principais do estágio operatório-concreto. Nesse momento, a criança começa a socializar e a compreender regras coletivas, mas não entende muito bem outros pontos de vista.
No terceiro estágio, o indivíduo é capaz de combinar, separar, ordenar e transformar objetos e ações. Ele também elabora – de maneira ainda muito simples – abstrações e operações mentais.
Suas ações e os acontecimentos que o rodeiam começam a fazer sentido e são percebidos com mais consciência.
Constatação do próprio pensamento (12 anos em diante)
Na quarta fase do desenvolvimento cognitivo, ou estágio operatório-formal, a capacidade de abstração é ampliada. Ocorre o amadurecimento da inteligência, de modo que o jovem percebe o pensamento e produz raciocínios dedutivos, planejamento e imaginação. Como consequência, ele se vê capaz de participar de discussões e apresentar conclusões.
INTERAGIR PARA APRENDER
Vygotsky aprofunda a teoria de Piaget, afirmando que o desenvolvimento cognitivo acontece à medida que o ser estabelece conexões com o meio em que vive. A interação social, portanto, possibilitaria novas experiências e, assim, a aquisição de conhecimento – fundamental para a evolução.
Com base nesse pressuposto, Vygotsky criou seu próprio esquema do desenvolvimento humano. Em vez de dividi-lo em “estágios”, como Piaget, utilizou a expressão “zonas de desenvolvimento” para descrever as etapas de sua teoria da aprendizagem – conhecida também como socioconstrutivismo.
“Posso fazer isso sozinho”
O primeiro dos degraus de Vygotsky é chamado zona de desenvolvimento real, no qual a criança já acumulou alguns conhecimentos e, em certa medida, tem independência para resolver problemas. Porém, é importante lembrar que esse nível de desenvoltura foi conquistado a partir de interações sociais.
“Posso fazer, mas preciso de ajuda”
Na zona de desenvolvimento potencial, a criança consegue executar tarefas apenas com a ajuda de alguém experiente – um adulto ou companheiros com mais capacidade. O indivíduo observa aquilo que ainda não sabe, mas tem potencial para aprender.
“Podemos fazer isso juntos”
O intervalo entre a zona de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento potencial – denominada zona de desenvolvimento proximal (ZDP) – é o caminho que leva ao amadurecimento das funções cognitivas. Segundo estudiosos da Educação, a aprendizagem deve acontecer na ZDP.
ESCOLA E A DESCOBERTA DE HABILIDADES
As escolas são ambientes propícios para o desenvolvimento da infância. O convívio com os colegas e figuras de autoridade especializadas em ensinar possibilitam que a criança cresça de maneira saudável – biologicamente e nas dimensões afetiva, cognitiva, social e motora.
Por meio do contato com a diversidade e das trocas estabelecidas, ela sai da zona de desenvolvimento real e, com a ajuda do professor, atinge seu desenvolvimento potencial. Essa evolução não acontece de maneira linear, e cada criança aprende a se relacionar com o contexto coletivo de sua própria maneira.
CRIANÇA INTELIGENTE E CONECTADA
Como já vimos até agora, o desenvolvimento cognitivo, emocional e biológico é determinado, entre outros fatores, pelas interações do indivíduo com outras pessoas e com o ambiente em que ele vive. E a infância é o período da vida mais importante para a criação de conexões saudáveis e construtivas, que se transformam em conhecimento.
Em complementação à teoria da aprendizagem de Vygotsky, podemos falar dos conceitos-chave formulados por Piaget, que detalham o desenvolvimento cognitivo. Esses conceitos explicam, a partir de uma outra perspectiva, como ocorre a formação intelectual por meio de experiências durante a infância:
Assimilação
Novas informações são incorporadas aos esquemas já conhecidos pela criança. Por exemplo: ela tem um cachorro labrador e, por isso, desconhece a existência de cães com outra aparência. Mas se ela vai ao parque e encontra um poodle, ela assimila aquela nova informação e a agrega ao seu repertório.
Acomodação
Ao mesmo tempo, a criança também adapta seus conhecimentos prévios às novas informações sobre o ambiente. Por exemplo: ela vai ao zoológico e visita diferentes animais, os quais relaciona com o cachorro que tem em casa. Nesse momento, ela cria um novo conhecimento, com base no que conhecia antes.
Progressivamente, à medida que a criança assimila e acomoda os objetos que encontra ao seu conjunto de referenciais, ela se encaminha para um ponto de equilíbrio. No momento da “equilibração”, o conhecimento de mundo já é mais desenvolvido e a criança interage com o ambiente de modo muito mais eficiente.
CAMINHO DE EVOLUÇÃO E ADAPTAÇÃO
A evolução das características genéticas é favorecida pelas interações do organismo com o meio. Não só na infância, mas durante toda a vida, o homem processa e internaliza informações adquiridas em experiências diversas, adaptando-se às circunstâncias do contexto em que está inserido.
Por esse motivo, o aprendizado nunca deixa de acontecer. A cada momento, como uma criança em desenvolvimento, podemos nos ver diante de desafios que ativam regiões desconhecidas em nós mesmos. O encontro com essas regiões enriquece o crescimento cognitivo, possibilitando condições de equilíbrio.
Consultoria: Marcela Ribeiro, professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental e assessora da Educação Infantil no Ensino Bilíngue do Colégio Positivo.