Quem nunca ouviu a frase “criança não tem de querer”? Pois é, muita gente já escutou e ainda escuta afirmações como essa. Tal fala reflete o pensamento de uma criança passiva que apenas acata as vontades dos adultos.
Atualmente, é um pouco incômodo ouvir esse tipo de afirmação. Porém, durante muito tempo (séculos, inclusive), a fase que marca as descobertas, desenvolvimento cognitivo e habilidades sociais e linguísticas foi subestimada pela maior parte das pessoas.
Mas, felizmente, com o passar do tempo, a infância adquiriu seu merecido lugar nas discussões de estudiosos e da sociedade em geral — de miniadultos, os pequenos passaram a ser vistos como realmente são: sujeitos propriamente ditos, ou seja, pessoas que já são alguém — em formação — na vida e não que o serão apenas em um futuro longínquo.
Por esse motivo, as crianças passaram a ter direitos tal como os adultos, no entanto, adaptados a elas. Porém, nem sempre o fato de possuir direitos reflete a realidade, uma vez que nem toda criança tem seus direitos assegurados. Esse é o caso da infância, que, lamentavelmente, não é garantida para todos os pequenos. Dessa forma, dizer que ser criança é a mesma coisa que ter infância é um equívoco, pois, para que a criança tenha infância, é preciso possibilitar um espaço de desenvolvimento acolhedor e instigante.
De acordo com Hannyni Mesquita, Coordenadora da Educação Infantil do CIPP dos colégios da Rede Positivo, no conjunto de direitos da criança, “está incluso o tempo para brincar, explorar e aprender a partir das relações com adultos que tenham paciência e lhe deem espaço de escuta para sua expressão e comunicação”.
Isso é tão essencial que “precisamos mobilizar a sociedade para que entendam que é por meio da brincadeira que a criança conhece, ressignifica e constrói as culturas, pois é o meio que manifesta os modos de ser e de viver do ambiente em que vive, transitando entre o mundo imaginário/simbólico e o mundo real”. Nesse sentido, a brincadeira age como um mecanismo por meio do qual a criança conhece o mundo e os seus habitantes, aprendendo a lidar com o outro e consigo mesma.
Como a criança já é um sujeito — e não somente alguém que será algo no futuro —, a infância se configura como uma experiência que será levada para a vida toda, caracterizando-se como a base da formação da criança. “Todos sabemos que as experiências da infância permanecem no adulto. Com maior ou menor impacto, positivas ou negativas, elas permanecem. Na infância, a vida já acontece. E mais: é nessa fase que o maior desenvolvimento humano ocorre, neurológico, físico, emocional e cultural, nas múltiplas dimensões”, comenta Hannyni.
A atuação dos pais tem papel fundamental na infância
Apesar de as crianças aprenderem muita coisa sozinhas e brincando, a figura dos pais e dos educadores enquanto mediadores desse desenvolvimento é fundamental na infância. No entanto, muitos pais podem se ver na posição de culpa por não conseguirem proporcionar determinadas situações aos seus filhos.
Nesse caso, a coordenadora Hannyni alerta que “o primeiro passo é entender que não existe culpa e não há culpados. É preciso ter paciência com as crianças e consigo mesmo, priorizar momentos de atenção plena uns com os outros e, principalmente, sair do modo automático e ir para o modo consciente. É dentro dessa reflexão que percebemos as pequenas atitudes que demostram o nosso amor, cuidado e referência em relação a esse pequeno ser humano”, finaliza.